terça-feira, 5 de agosto de 2014

Sumiço


Sumi sim.

Mas sumi por não saber lidar com lembranças. Emoções são como objetos - tê-lo é possuí-los. As lembranças são como esses objetos emocionais que todo mundo tem - mas a partir do momento em que atribuo a eles a posse, se tornam infinitos dentro de mim.

Uma lembrança pode me ser um lugar, uma bebida, um papel ou fato do qual não pude me esquivar. Uma lembrança também pode me ser um corte, um perfume, uma marca qualquer - mas que me marque, de alguma forma.

E então começa a machucar, a partir do momento que percebo que meu esforço não serviu para nada. Começa a cortar fundo e liberar um cheiro ocre de raiva, talvez assim eu diria que seria a mágoa... E escorre um líquido transparente enquanto eu reluto (às vezes, também em vão) para estancar esse sangramento.

E aí começo a tratar o ferimento com novos sentimentos, na tentativa de fechá-lo de uma forma que nunca mais se abra. Mas demora, é um processo que a descrença naquilo que antes parecia límpido e irredutível. As inúmeras vezes em que em vez de me tratar, eu enfio com mais força meu dedos nessa ferida para buscar os erros. As aberturas são ainda maiores aqui. O sofrimento continua o mesmo (quando não se alastra como um câncer). Cada mágoa minha é uma doença que eu não sei se o tratamento é eficaz.

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