Um dia eu senti a
angustia amargar mais que limão e maracujá enquanto eu a engolia.
Ficou presa na
garganta, por muito tempo, todas as coisas que eu senti e o que
pensei – que infelicidade – ficou preso no fundo do meu
inconsciente.
Mas os dias se
passaram, e as pontadas ficavam mais e mais fortes.
Então, enquanto eu
arrumava as coisas eu tentava focar nas coisas novas que podiam estar
me esperando – e era complicado, cada roupa posta na mala também
recebeu alguns pingos vindo dos meus olhos, esmaecendo-se nas últimas
esperanças.
Então, mala pronta.
Hora de me despedir dos meus de sangue. Mais lágrimas enquanto eu
repetia que aquilo era melhor pra mim, e que eles veriam em breve uma
nova luz nos olhos meus.
Desisti de mim
naquela hora. Por um momento me dei a liberdade de ser nova. A
liberdade de ser quem eu quisesse naquela hora. Ser uma adolescente
nova fugindo de casa. Alguém em busca de um destino jamais pensado.
Atrás do novo – que sempre vem.
E não ousei ligar o
celular, não. Na verdade eu o deixei em cima da cama - o chip que
todo mundo costumava ligar para. Deixei em cima da cama o que poderia
ligar meu passado ao meu novo futuro . Desliguei-me daquela realidade
pra ir pra minha fantasia.
Os minutos naquele
carro, enquanto eu tomava meu rumo pra rodoviária pareciam eternos.
Eu batia os polegares, tremulava as pernas. O taxista olhava pra mim,
curioso pela minha ansiedade – mas percebi que não se deu ao luxo
de perguntar. Que pena, teria dito muita coisa para um estranho em
vez de alguém conhecido. Não me abalou, na verdade lhe fui grata
pelo serviço e pela delicadeza.
Com a mala na mão,
fui rodando pela rodoviária, para o lugar onde eu esperaria meu
embarque… então, de repente… eu vi algo que parecia ele. Corri o
máximo que pude. Esse começo era meu direito. MEU E SOMENTE MEU.
Não deixaria você
me amarrar novamente.
Então corri. Corri
de medo. Corri de susto. Corri. Desesperada. Corri por direito.
Olhava para as estruturas acinzentadas, tentando ter a certeza que
meu sonho jamais morreria naquele lugar, e sim que seria bombardeado
para frente.
Mais segura de mim e
segura no lugar eu me sentei. Cansada pelo susto e pelos pensamentos,
senti meu corpo cair como um peso morto naquela cadeira de plástico
amarela. Amarelo nunca foi e nunca seria minha cor favorita – mas
se adequava ao momento.
Tirei o bilhete do
bolso. Blumenau. Cidade do sul. Interior. A calmaria que a cidade
grande jamais me deu eu fiz a loucura de ter de qualquer forma. Já
estava perto da hora. Admirava aquele pedaço de papel como eu
admiraria meu diploma. Daqui uns seis meses eu teria que voltar,
mesmo, não? Enfim, lembrava desse fato com meus botões. Então uma
mão atravessou meu bilhete….
- O QUE FAZ AQUI,
COM ESSA MALA?!?!
- Vou tirar férias
– respondi tranquilamente.
- No sul? Você
nunca gostou do sul!
Era um amigo em
comum com ele. Colega pra mim seria a palavra e deslize seria o
sentimento que eu tinha agora.
- Não gosto, mas
preciso ver uma amiga lá.
- Com o tamanho
dessa mala diria que estava indo embora… - falou enquanto tocava
aquela mala preta.
- Um mês. Por isso
a mala grande.
- Ah tá. Volta
quando?
Disse um dia X.
Passei o celular antigo – pois o mesmo disse que ia querer
notícias. Enfim, escrevi o telefone dele, pois disse que estava sem
bateria (o aparelho só estava desligado enquanto eu o segurava em
mãos).
Então ele se foi
tão rapidamente como apareceu. Meu sangue fervia loucamente enquanto
eu tentava me acalmar. Logo o chamado para o embarque foi feito.
Então como num ímpeto de desespero eu fui o mais rápido que pode.
Queria que aquilo terminasse logo. Agora. Não tarde demais...