sábado, 31 de dezembro de 2016

Libertação

(créditos: @orionvanessa - Instagram)

Antes de tudo e de nada: o que é, de fato, libertação?
Será apenas um sentimento indubtável de alívio? Será também quando você perceber seus caminhos livres? O que é ser liberto?

Muitas vezes, na antropologia, a libertação é associada ao fim de uma situação de prisão, de escassez, de encarceramento que o indivíduo se encontra.
Mas nem sempre o sentido antropológico da coisa só fica na História que estudamos na escola desde a primeira série até o terceiro ano do ensino - às vezes, e muitas vezes, nós carregamos isso para as relações sociais que temos - ou por vezes sem querer, ou por muitas e muitas vezes sem saber.
E aí vem o sentimento de perda, de impotência, de privação de desejos e a única coisa, que no fim ansiamos, é a liberdade.
Mas o que vem antes da libertação? A crise, a revolta. No momento em que nos damos conta da situação que nos aprisiona e do quanto a gente permitiu que isso acontecesse, o sentimento de raiva parece incontrolável. Nesses momentos em que a cabeça parece sair voando do corpo, é preciso se acalmar e refletir do que aconteceu.

As crises são as chances que temos de ver que as coisas dão errada e que temos uma nova forma de pensar e de mudança. O que está errado está mostrando uma saída para que a gente se liberte.

Por mais que parece ser difícil, às vezes é preciso romper toda as barreiras e padrões que antes nós achávamos que fossem certos. É a hora de promover a mudança que é precisa - mesmo que venha com muita dor e sofrimento. É a chance de crescimento.

Por isso, o sentido de libertação vai mais do que apenas o alívio. A libertação vem com rompimentos, com renovações, com mudanças na psique e no comportamento do indivíduo tanto no individual quanto no coletivo. Libertação é mudança.

Que ela seja bem vinda, então.

domingo, 24 de abril de 2016

E.N.D


Demorou muito. Mas apagou.
Bloqueou-se daquele contato muito líquido, fluido, que quase não restava nada.
Facebook? Oras, já tinha ido embora junto com aquele troco de whatsapp e a caralhada a quatro.

Teria ela voltado para os anos 90? Talvez. Mas disse que queria recomeçar do zero e assim o fez.
Todos acharam muito estranho aquele comportamento tão anti-social - justamente ela, que era sempre tão comunicativa e presente nos ambiente que frequentava!

"Ás vezes é preciso apagar uma coisa de uma vez por todas quando nunca se existiu nela" - disse, uma vez para um amigo antes de decidir partir desta vida virtual. Aqueles que só mantinham contatos por intenções injustas ou só pra sondar terreno acham aquela atitude um absurdo.

"Absurdo seria mesmo?" Pensou, de tamanha prontidão enquanto se questionava em apagar aqueles aplicativos do celular. Seria tão absurdo mesmo excluir de si aquilo que não era real pra si mesmo? Seria absurdo mesmo parar com o que no fundo só te fazia mal?

E enquanto pensava, um filme sobre os últimos anos de sua vida passava na mente. De fato, teve momentos que fora feliz, mas que custaram pelas lembranças tristes. Talvez algumas pessoas de fato não mereciam tal distanciamento - mas por se sentir tão arrebentada, ela não merecia oferecer para si mesma e para quem um dia a amou tanto cacos de si.

E respirou fundo.
Apagou cada aplicativo. Um por um.
Cada número da agenda. Um por um.

Caíram lágrimas, "é normal, vai passar"- e repetia com tamanha convicção para não perder a coragem.
E ao fim de tudo, não sabia se tinha feito certo ou errado.

Estava feito.
E agora, estava recomeçando.

(continua)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Adeus


Sabe, demorou muito pra que eu admitisse isso: você me dói.
Demorou muito pra admitir também, no começo, o quanto eu estava disposta por você. O quanto eu me importava e amava você, de uma maneira tão idiotamente linda. Pelo menos pra mim.
Antes eu sei como eu projetava um mundo ideal em cima de você e sei que foi injusto. Que foi injusto tudo o que eu fiz. Mas sempre você foi livre, e isso era importante de manter e de respeitar, da minha parte.
Então você se foi.
E eu estagnei.

E de repente você volta, mas eu estava diferente.
Eu estava perdida. E com medo. De tudo e de todo mundo. Mas eu sentia sua falta.
Desculpa também por não te dizer isso. Por nunca ter coragem de dizer nada.
Mas lá estava você. E eu não sabia o que fazer.
E deu errado de novo.

E eu fui embora.

E de novo você quis voltar. E deu errado de novo.
E eu me sinto triste.
Triste por tudo.

E eu só queria ver você feliz e sorrindo, porque é o momento que você fica mais incrível. Antes era uma imagem. Depois eu aprendi sobre você. E eu ainda queria ver você sorrindo do mesmo jeito.

Você é uma pessoa boa. E tem que continuar sorrindo. Mas você me dói.

E. Bem. Agora que tá tudo esclarecido. Eu preciso mesmo ir embora, não me leva a mal, por favor.
Mas dói.
E eu não sei lidar com você aqui.
E meu mundo tá desabando. E tá uma droga. Eu me sinto morta.
Mas eu tenho que ir. Sozinha.

Adeus. Porque eu não posso dizer se algum dia eu volto.

Adeus. Espero que continue bem.  

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O poder do tempo


Fiquei sozinha de novo. 
Mais uma vez dentre tantas outras.
Algumas vezes a ficha não caía - mas as lágrimas sim. E era um sofrimento terrível - como se algo estivesse sendo arrancado a força. Me sentia como Prometeu que tinha o fígado roído por uma águia durante o resto de sua vida. Isso se dá quando a confiança da pessoa é quebrada no meio.
Então os dias se seguiam arrastados, monótonos. Doloridos. 
Me faltava força pra sentir as coisas, para conversar com qualquer pessoa. Me isolava porque não queria que ninguém percebesse o que meus olhos diziam.

Sobrou apenas a mala vazia debaixo da cama para fazer.
Escolhi as coisas mais simples que eu tinha. O diário também. Canetas coloridas - na esperança que elas pudessem colorir a minha vida.
Celular? Deixei na cama. O vídeo game? Ficou lá também, pra quem quisesse se divertir. O que me conectava àquela vida ia ficar nas prateleiras que antes eu fazia questão de deixar cheias de coisas e de vida minha.

O relógio marcava meia noite. "Droga! Eu tô atrasada!"
E saí correndo pelo beco escuro, porque no outro dia eu pensei e acreditei que estaria num lugar melhor.