Demorou muito. Mas apagou.
Bloqueou-se daquele contato muito líquido, fluido, que quase não restava nada.
Facebook? Oras, já tinha ido embora junto com aquele troco de whatsapp e a caralhada a quatro.
Teria ela voltado para os anos 90? Talvez. Mas disse que queria recomeçar do zero e assim o fez.
Todos acharam muito estranho aquele comportamento tão anti-social - justamente ela, que era sempre tão comunicativa e presente nos ambiente que frequentava!
"Ás vezes é preciso apagar uma coisa de uma vez por todas quando nunca se existiu nela" - disse, uma vez para um amigo antes de decidir partir desta vida virtual. Aqueles que só mantinham contatos por intenções injustas ou só pra sondar terreno acham aquela atitude um absurdo.
"Absurdo seria mesmo?" Pensou, de tamanha prontidão enquanto se questionava em apagar aqueles aplicativos do celular. Seria tão absurdo mesmo excluir de si aquilo que não era real pra si mesmo? Seria absurdo mesmo parar com o que no fundo só te fazia mal?
E enquanto pensava, um filme sobre os últimos anos de sua vida passava na mente. De fato, teve momentos que fora feliz, mas que custaram pelas lembranças tristes. Talvez algumas pessoas de fato não mereciam tal distanciamento - mas por se sentir tão arrebentada, ela não merecia oferecer para si mesma e para quem um dia a amou tanto cacos de si.
E respirou fundo.
Apagou cada aplicativo. Um por um.
Cada número da agenda. Um por um.
Caíram lágrimas, "é normal, vai passar"- e repetia com tamanha convicção para não perder a coragem.
E ao fim de tudo, não sabia se tinha feito certo ou errado.
Estava feito.
E agora, estava recomeçando.
(continua)