Enquanto eu fazia minhas coisas – ali no meu canto – assim tão tranquila, tão agitada, tão concentrada, eu o fitava. Você me devolvia o olhar assim de relance, como que contendo o próprio impulso de buscar os meus olhos. E quando percebi, morri do coração por um átimo, talvez uma fração de segundo. Nesses momentos o tempo parece durar uma eternidade.
Parece ser esse o ofício do amor: causar-me uma intensamente leve taquicardia. Meu pobre coração descompassado debatia-se dentro de minha caixa torácica enlouquecido, tentando sair junto com alguns sons balbuciados por mim, minha voz mais fina e frágil que o normal.
O mundo girava lá fora. A escola mantinha seu ritmo normal enquanto em mim parecia que alguém havia apertado o botão avançar. Você vigiava a sala vizinha encostado no batente. Alguma coisa interessante por lá? Penso que não. Você me olhava profundamente, mesmo quando tentava disfarçar. Despistava, explicava uma questão qualquer a algum colega meu de sala, enquanto eu esquecia as respostas já velhas conhecidas minhas. E me olhava com aquele olhar nada vacilante. Discreto, direto, percebendo detalhes em meu olhar translúcido.
Nenhum vacilo meu passava despercebido por seus olhos felinos, nenhum movimento, nenhuma inspiração ou expiração que brotava de meu peito discretamente arfante. Tudo era registrado fotograficamente por eles.
Você não me deixava em paz. Parecia estar se divertindo com minha inquietude, minhas bochechas levemente rosadas por um alegre acanhamento, minhas mãos trêmulas que se esforçavam sobremaneira para escrever as medíocres respostas que me vinham à mente.
Divirta-se com minhas tremulações. Eu deixo. Mas um dia – quem sabe não muito distante – eu o faça se sentir assim também. E eu sentirei uma alegria pseudo-arrogante em deixá-lo com a face inteiramente rubra para, logo em seguida, beijá-lo.
Giane Higino e Sara Regina Carvalho
Treze e Quatorze de Junho de 2011
Adorei esse! Acho que por passar pela mesma situação todos os dias... To seguindo :)
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